Domínio dos clubes do Brasil na América do Sul

Neymar, Memphis Depay, Oscar, Danilo… A lista é extensa, mas todos esses nomes têm algo em comum: são estrelas do futebol mundial que decidiram jogar no futebol brasileiro, mesmo com propostas de outros mercados. Mas o que explica esse movimento? Como o Brasileirão tem conseguido fazer frente a mercados competitivos da Europa e se distanciar tanto de outras ligas na América do Sul?

Nos últimos anos, têm-se visto um considerável aumento de faturamento dos clubes brasileiros, tanto aqueles que seguem um modelo associativo, caso de Palmeiras e Flamengo, quanto os que adotam o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF): como Botafogo, atual campeão brasileiro e da Libertadores; Bahia, que retorna à Libertadores após 35 anos; Cruzeiro; e Vasco. Em 2023, por exemplo, ano em que todos os citados já estavam na primeira divisão, a Série A do Campeonato Brasileiro registrou receita de R$ 8,8 bilhões, um crescimento de 22,2% em relação ao ano anterior, segundo dados do Relatório Convocados 2024.

Nesse contexto, a especialista em eventos esportivos, Moara Miranda, explica como a nova realidade tem gerado uma distância econômica em relação a rivais sul-americanos. “Clubes como Palmeiras e Flamengo já vem há muitos anos com grandes receitas, geradas através de direitos televisivos, premiações, venda de jogadores e merchandising com a torcida; mas agora temos visto o investimento estrangeiro em clubes de massa, mas que não tinham grande poderio financeiro, como Bahia, com o City Football Group, e Botafogo, com John Textor. Isso muda toda a lógica do mercado: esses clubes passaram a fazer grandes investimentos nas janelas, algo impensável anteriormente”, explica.

Em janeiro, já com a janela de transferências aberta, segundo dados do Post United, o Brasileirão foi a segunda liga no mundo em nível de investimento, somente abaixo da Premier League, que mantém uma distância financeira para todas as outras ligas do planeta. Essa maior capacidade econômica chama a atenção, principalmente de jogadores já há muito tempo jogando no exterior, mas também de novos espectadores, interessados com os atletas que estão vindo ao Brasil.

Além do capital estrangeiro, outro fator também contribui para essa discrepância dos clubes brasileiros para os rivais sul-americanos: o aumento na receita com direitos televisivos. Para 2025, o campeonato brasileiro terá a transmissão de diversos veículos que pagam caro pelos direitos de televisão como Globo, Amazon, Record, além da Cazé TV, no youtube. Outro destaque vai para o desenvolvimento da Libra e da Liga Forte União do Futebol Brasileiro, grupos de clubes brasileiros que podem negociar os direitos de transmissão com canais estrangeiros, aumentando a visibilidade da competição em outros países.

“A questão dos direitos de transmissão é um ponto muito importante nessa discussão, ainda mais que agora temos dois grupos bem definidos de clubes negociando esses direitos, a Libra e a Liga Forte União. Não só é uma fonte de receita a mais para os clubes, mas também aumenta a visibilidade da liga com a transmissão no exterior. Isso também atrai o interesse de novos patrocinadores, que veem o produto estar mais valorizado e em expansão para novos mercados”, comenta a especialista.

Contudo, além dos fatores já citados, há outro que aumenta a distância para rivais da América do Sul: as premiações de competições nacionais. Para efeito de comparação, o Flamengo, campeão da última Copa do Brasil, ganhou R$ 92 milhões em premiação com o torneio. Já o último campeão argentino, o Velez Sarsfield, recebeu US$ 500 mil, cerca de R$ 3 milhões de reais, pelo título. O valor foi inferior ao que o Santos recebeu por ter sido campeão da segunda divisão do campeonato brasileiro.

Desse modo, variados fatores conseguem explicar o fortalecimento econômico do futebol brasileiro perante outros mercados, em especial na América do Sul. Dos últimos oito campeões da Libertadores, por exemplo, sete foram brasileiros e com a questão econômica cada vez mais acentuada, a tendência é que os clubes do Brasil continuem a dominar a região por muito mais tempo.

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